terça-feira, 31 de março de 2009

A fúria

Cai pesadamente sobre a terra quente. Não se verga. Olha para ele, sem mostrar um único resquício de medo. Esta terra que a viu nascer. E ele bruto, sufoca-a. Segura-a pelos seus cabelos enquanto a arrasta pelo chão. No corpo apenas um top e uma cueca. Nas pernas o áspero e o calor da terra vermelha quente. O sangue escorre-lhe pelo nariz. Sorri para ele, enquanto sente todos os poros dos seus cabelos que outrora ele gabara. Atira-a para a frente do seu povo. Quere-la, fica com ela. Não suporto mais esta encantadora de serpentes, esta cobra vil que se aninha perigosamente no meu leito...toma-a. Não a quero mais. Peço-vos, não ma devolvam! Mantenham-na cativa deste reino- brada enquanto ela deitada sobre o solo se preenche de raiva. Todo o seu corpo se contorce em espasmos enfurecidos. Levanta-se abruptamente e erguendo a mão, oferece-lhe uma bofetada sonorosa para imediatamente receber outra ainda mais poderosa. Atordoa-lhe o corpo mas não lhe acalma a fúria.
- Sabes quem sou? - grita-lhe do fundo da alma. Quem pensas tu que eu sou para me entregares numa bandeja mal amanhada? Sou eu Lueji, a rainha das Lundas...Não te convenças da tua superioridade, por que és homem. Não te convenças do teu domínio. Porque eu, Lueji tenho o poder avassalador das Lundas. Sou todas as suas paisagens numa só, as suas mil trovoadas, o cântico dos povos, o espírito dos guerreiros, a força das mães, o feitiço das kyokas...sou eu Lueji! Grita fortemente para se calar erante o trovejar insistente e o cair ruidoso das gotas grossas de chuva...ergue a mãocéus, e deixa-se cair de joelhos sobre a terra fumegante.Com as mãos cerra punhados de terra quente e vermelha para inspirar profundamente o perfume que se liberta desta terra que ama.
- Sou Lueji...grita Sou o poderoso cheiro da terra molhada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário